B12. Há sítios de onde partimos, nos quais permanecemos e permanecem em nós
Ainda estou a processar estes últimos dias e a incrível experiência que foi subir o majestoso Kilimanjaro. Há vivências que nos marcam com uma profundidade única, que ficam em nós para sempre. Tenho-me deixado ficar em silêncio interior, onde as memórias falam mais alto.
Revivendo a quente, recordo o ataque final ao cume. Foi extremamente desafiante. Sentia-me plena, mas travava uma batalha dentro de mim – a cólica persistente tornava tudo mais intenso, testando os meus limites.
Assim que cheguei ao topo, fui inundada por um rasgo de felicidade. Senti que toquei no infinito. Transcendi! O ar rarefeito, o silêncio imenso, a vastidão sem fronteiras – tudo me envolvia num abraço de eternidade. Num estado puro de presença, deixei-me ficar, como se o tempo tivesse parado ali, suspenso entre o céu e a terra. Por um instante, o meu sonho tornava-se real.
Eu estava em Uhuru. No ponto mais alto de África. No pico cujo nome significa "Liberdade".
Que honra! A liberdade de me desafiar, de ir mais além, de descobrir novas dimensões dentro de mim. Agradeci à montanha por me ter deixado escalar. No seu cume, senti essa liberdade em cada célula do meu corpo. "És livre", disse-me a montanha. E, nesse instante, compreendi a responsabilidade da liberdade. A grandiosidade daquele momento revelou-me a felicidade pura – seguir o coração é sempre a melhor forma de caminhar.
Foram cinco dias de caminhada, de entrega absoluta a cada passo, a cada sopro de vento, a cada batida do coração. Uma jornada de resistência, mas, acima de tudo, de conexão. Com a montanha. Com a natureza indomável. Comigo mesma. No caminho, aprendi que não se sobe sozinho. A generosidade de quem me acompanhava, os gestos de apoio silenciosos, os sorrisos partilhados na exaustão – tudo isso foi parte da chegada.
Estes dias trouxeram-me imensa perspetiva sobre a vida – sobre o que realmente importa, sobre a simplicidade de viver, sobre o que nos faz verdadeiramente livres.
Há viagens que não terminam quando regressamos. Há sítios de onde partimos, nos quais permanecemos e que, de alguma forma, permanecem em nós. O topo daquela montanha não ficou para trás; carrego-o comigo, como um sussurro, uma memória viva, um lembrete de que há alturas em que somos tão pequenos diante do mundo e, ao mesmo tempo, tão imensos dentro de nós.
Porque viver é isso: deixar-se tocar pelos lugares, pelas pessoas, pelos momentos. E permitir que, mesmo depois de descermos, algo de nós continue lá em cima – e algo de lá permaneça em nós.
No topo do Kili, tornou-se claro para mim que a verdadeira liderança começa dentro de nós – no cultivo do amor-próprio, na autodescoberta, na autocompaixão. É através da liderança e do desenvolvimento pessoal que nos ligamos ao coração, elevamos a nossa energia e nos tornamos capazes de entregar ao mundo o nosso melhor, acrescentando valor a nós mesmos, aos outros e a tudo o que nos rodeia.
Asante Sana, Kilimanjaro ✨🏔️😊
(muito obrigada Kili)