B14. Desconectados para conectar - o paradoxo da hiperconexão digital








É curioso como, nos momentos em que o ecrã escurece e o sinal desaparece, sinto uma estranha liberdade. Sem o peso das notificações, sem a urgência de responder — reencontro-me de verdade. Conecto-me, não ao mundo virtual, mas a algo mais profundo — a mim mesma, ao momento presente, ao pulsar silencioso da vida que por vezes ignoro.
Nem sempre é fácil desligar. Mesmo quando o ecrã escurece, a mente continua acesa — ansiosa, inquieta — como se o vazio deixado pelas notificações silenciadas revelasse um ruído ainda maior. E é nesse espaço desconfortável que me confronto: Vivo para mim ou para o que vou partilhar? Do que ando a fugir para me esconder aqui? O que estou a perder por ficar aqui? E o que sobra de mim quando as luzes se apagam?
Vivemos rodeados por redes, mas raramente nos conectamos de verdade. Mal conhecemos quem está ao nosso lado. Vemos sem ver. Estamos sem estar. Conectamo-nos desconectados.
Presos a ecrãs luminosos, passamos horas a deslizar por realidades editadas, esquecendo que o mundo palpável está logo ali, à espera de ser vivido. Muitas vezes, vivemos nos livros aquilo que adiamos na realidade. Escondemo-nos na teoria e nos sorrisos vazios. Perdemos tempo no virtual e deixamos que ele afete o real.
É no vazio tecnológico que surge o verdadeiro espaço para se estar. Sem filtros, sem likes, sem pressas — apenas eu, o agora e o que me rodeia.
Tenho saudades de ter a bússola na mão, com o mapa para me orientar. De confiar no instinto para me orientar em vez da seta digital. De interpretar na natureza a tempestade que está prestes a chegar ou o dia incrível de calor que o céu faz antever.
Sou adepta do digital, mas parte de mim resiste. Procura o que é cru, puro, o que está em bruto — o que não se apaga com um clique. Procura o que não vibra por notificações, mas pelo simples estar. Gosta do toque, do saborear, do cheirar, do ver, do ouvir, do falar — da inteligência sensorial.
Quando a bateria descarrega, o Wi-Fi desaparece e a rede falha, redescubro o prazer simples de existir sem interrupções. Deixo-me perder no presente. Com quem estou. Onde estou. E percebo: para me conectar de verdade, primeiro tenho que desconectar — deste mundo hiperconectado no digital e desconectado do emocional.
É na simplicidade do ser que encontro a minha verdadeira rede — sem filtros nem ruídos — e descubro o que me define, para lá do brilho do ecrã ligado.